Está frio.
Ponho sobre os ombros o capote que me lembra um xale –
O xale que minha tia me punha aos ombros na infância
Mas os ombros da minha infância sumiram-se muito para dentro dos meus
ombros,
E o meu coração da infância desceu-se muito, para dentro do meu coração.
Sim está frio…
Está frio em tudo que sou, está frio…
Minhas próprias ideias têm frio, como gente velha…
E o frio que eu tenho das minhas ideias terem frio é mais frio do que elas.
Engenho o capote à minha volta…
O Universo da gente…a gente…as pessoas todas!…
A multiplicidade da humanidade misturada,
Sim, aquilo a que chamamos a vida, como se só houvesse astros e estrelas…
Sim, a vida…
Meus ombros descaem tanto que o capote resvala…
Querem consertar melhor? Puxem-me para cima o capote.
Ah, parte a cara à vida!
Liberta-te com estrondo no sossego de ti!
In Antologia Poética
Organização e apresentação Cleonice Berardinelli